Muitas vezes, diversificar investimentos significa sair da zona de conforto. Investimento no exterior e ampliação de negócio extrapolando fronteiras já são realidade há bastante tempo. O segredo, na verdade, é antecipar tendências e ter visão de oportunidades, como se vê em alguns países africanos, por exemplo.
Ruanda (ou Rwanda) é um desses exemplos: localizado na África Oriental, o país tem se destacado como um dos ambientes de negócios mais favoráveis do continente africano. O país tem apresentado taxa de crescimento constante, com média de mais de 7% na última década.
Com mais de 11 milhões de habitantes, Ruanda tem como idiomas oficiais o kinyarwanda, além do inglês e francês. A moeda local é o franco ruandês, sendo que US$ 1 equivale a aproximadamente 959 francos ruandeses.
O relatório “Doing Business Report” (2020), publicado pelo Banco Mundial, revela que Ruanda ocupa a 38º posição quando se fala em país com maior facilidade de comercialização, sendo o segundo país africano com a melhor colocação. O país está na frente de nações como Portugal, Polônia, Bélgica, Chile e México. Para se ter uma ideia, o Brasil só aparece na 124º posição. O estudo apresenta indicadores quantitativos sobre a regulamentação dos negócios e a proteção dos direitos de propriedade, que podem ser comparados através de 190 economias.
O documento mostra, ainda, que Ruanda é o país com o menor custo para se abrir um negócio, com oito taxas ou pagamentos por ano, o que representa 33,2% do lucro. Nos Estados Unidos, o percentual é de 43,8% e na Alemanha, 49%, por exemplo. O estudo abrange as regulamentações de 12 áreas referentes à atividade empresarial. Dez delas – abertura de empresas, obtenção de alvarás de construção, obtendo eletricidade, registro de propriedades, obtenção de crédito, proteção de investidores minoritários, pagamento de impostos, comércio internacional, execução de contratos e resolução de insolvência - estão incluídas na pontuação e na classificação das economias em termos da facilidade de se fazer negócios. O Doing Business também mede a legislação sobre a contratação de trabalhadores e a contratação pública, áreas que não estão incluídas na pontuação e na classificação em termos da facilidade de se fazer negócios.
Desenvolvimento em ascensão
Balanço do Banco Africano de Desenvolvimento mostra que o PIB real ruandês, em 2019, teve um crescimento de 8,7%, número acima da média regional. O crescimento foi principalmente nos serviços (7,6%) e na indústria (18,1%), com destaque para a construção civil (30%).
Para garantir que Ruanda alcance o status de País de Renda Média (MIC) até 2035 e o status de País de Renda Alta (HIC) até 2050, o governo local lançou uma série de Estratégias Nacionais para a Transformação, sustentadas por planejamentos setoriais detalhados que visam atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A partir da implementação das Estratégias de Desenvolvimento Econômico e Redução da Pobreza, o país teve desempenho econômico e social robusto.
Os investimentos públicos têm sido o principal impulsionador do crescimento nos últimos anos. O financiamento externo por meio de doações e empréstimos concessionais e não concessionais desempenhou um papel importante no financiamento de investimentos públicos. A desaceleração do crescimento de 2016 e 2017 destacou os limites do modelo de crescimento liderado pelo setor público.
Crescimento econômico
A expectativa é que, no futuro, o setor privado contribua para garantir o crescimento econômico. Hoje, o segmento encontra dificuldades no que diz respeito à qualificação profissional e ao alto custo da energia. O maior dinamismo do setor privado ajudará a sustentar altas taxas de investimento e acelerar o crescimento. Já a promoção da poupança interna é considerada crítica.
Para atrair investimentos estrangeiros, Ruanda, disponibiliza um site, sendo que a captação maior é em setores de infraestrutura, tendo como exigência empregabilidade no local em que for alocado.
Estabilidade política
Ruanda apresenta um progresso significativo na governança e relativa estabilidade política, com baixos níveis de corrupção (para os padrões da região) e abundância de recursos naturais importantes, com reservas de cassiterita, coltan, ouro e pedras preciosas (como água-marinha, rubi, safira). O potencial turístico também é um ponto de destaque, além dos incentivos governamentais para investidores estrangeiros.
Entre os pontos de atenção, estão a alta dependência dos preços das commodities e ajuda internacional, as tensões geopolíticas na região dos Grandes Lagos, a alta pressão demográfica, com uma das maiores taxas de densidade populacional da África, a falta de mão de obra qualificada e o pequeno mercado interno, além da coordenação insuficiente entre o Conselho de Desenvolvimento de Ruanda, Autoridade de Receita de Ruanda, o Ministério do Comércio e Indústria e a Direção de Imigração e Emigração do Ruanda. Aliadas, essas características podem levar a uma aplicação inconsistente de incentivos para investimentos externos diretos (IED).
Exportação
Os principais itens de exportação de Ruanda no ano de 2019 foram café, chá, especiarias, US$ 123,4 milhões (41,2% do total exportado); minérios, escória, cinzas, US$ 107,7 milhões (36%); legumes, US$ 7,9 milhões (2,7%); e gomas, resinas, outros sucos vegetais, US$ 5,2 milhões (1,7%). Já com relação aos produtos importados, destaque para óleos de petróleo e óleos obtidos de minerais betuminosos.
Vale a pena investir em Ruanda?
Ruanda apresenta bons dados para investidores, já que é 38º país com maior facilidade de comercialização, o país com o menor custo do mundo para se abrir um negócio, além de ter um crescimento em seu PIB de 8,7% em 2019. Analisando o setor de construção civil, este apresentou crescimento de 30% somente no ano de 2019.
O governo ruandês oferece atrativos a investidores nos setores de infraestrutura, com isenção de tributos de sete anos para grandes projetos em setores estratégicos. Além disso, não há taxas na repatriação de capital. O país deseja atrair investidores internacionais de mineração, já que possui grande capacidade ociosa. Sendo assim, Ruanda é um lugar com potencial para se investir nos setores estruturais, principalmente se levarmos em conta o crescimento econômico e sua população, que hoje é de 12 milhões de habitantes.
Um dos pontos mais críticos na tomada de decisão sobre investir ou não em Ruanda, é a incerteza política em relação ao que ocorrerá quando o atual presidente, Paul Kagame, deixar o cargo. Desde o fim da guerra-civil e da pacificação do país, nos anos 2000, Paul Kagame assumiu o governo e se mantém até a atualidade, o que gera dúvidas sobre como será o próximo governo.
Investimentos de longo prazo ficam em cheque quando se coloca esse questionamento, principalmente quando se fala nos setores estruturais, que são extremamente altos e com retornos no longo prazo. Para mitigação de risco, devem ser realizadas negociações governamentais que busquem contrapartida em outras áreas. Por exemplo, caso fossem realizados grandes investimentos nos setores de mineração, seria interessante promover a compra de medicamentos brasileiros, pois eles já possuem essa demanda e investem mais de US$85 milhões na compra de remédios. Outra opção seria priorizar o Brasil na importação de açúcar, já que o Brasil se destaca nessa produção e Ruanda possui a demanda de US$ 76 milhões.