Saber investir bem é entender que a diversificação extrapola os investimentos na bolsa de valores. Quem tem isso em mente entende que é possível aplicar em alternativas mais voláteis, mais estáveis, mais tradicionais e mais ousadas. O investimento em vinhos e whiskys é uma dessas opções que saem do óbvio. E quem acha que as bebidas servem apenas para consumo próprio precisam repensar esse conceito.
A consultoria Rare Whisky 101 faz avaliações e estudos sobre as tendências dos preços no mercado dos whiskies raros. Ela publica o Rare Whisky Icon 100 Index, que, nos últimos 10 anos, registrou uma valorização média anual de 20%. Outro índice, o Japanese Icon 100 Index, voltado para as garrafas japonesas, registrou valorização de 11% ao ano.
Os vinhos, por sua vez, são os queridinhos, de acordo com pesquisa divulgada pela Knight Frank. A empresa, que é especializada no mercado de alta gama, apontou que o vinho é o melhor investimento na área de luxo nos últimos 12 meses, de junho de 2020 a junho de 2021. O resultado foi surpreendente, já que whiskies e bolsas de luxos sempre lideraram o ranking KFLII. Os resultados mostram que os preços da bebida subiram 119% em um período de 10 anos. Ainda assim, considerando os mesmos 10 anos, o whisky, quando raro, registra um crescimento de 483% no valor.
Como realizar o investimento?
Para adquirir whisky ou vinho, é possível realizar compras em loja física ou fundos de investimentos.
As compras físicas podem ser feitas em mercado aberto ou leilões. Elas exigem um cuidado com armazenamento, já que o ambiente deve ser apropriado para garantir as características da bebida. Os vinhos precisam de temperatura constante, entre 12ºC e 14ºC, além da umidade em torno de 75%. Isso sem contar a necessidade de abrigo da luz. Quando se compra a bebida em barris, é possível alugar espaço em armazéns especializados para armazenamento. Neste caso, é possível adquirir, ainda, no período de maturação durante o envelhecimento.
Já quem não quer se preocupar com armazenamento pode investir por meio dos fundos. Muitos bancos já oferecem essa modalidade de investimento, além de consultorias especializadas que atuam na área. Neste caso, são cobradas taxas de administração pelo serviço. É preciso estar atento à análise de autenticidade da bebida, para evitar enganos na hora da aquisição.
O whisky pode ser armazenado sem prazo determinado, desde que em condições adequadas. A grande questão é: devido à raridade de garrafas ao longo do tempo, no futuro é possível que os preços se mantenham ainda mais altos, já que haverá menos oferta de bebidas. Vale lembrar que, após engarrafada, a bebida terá sempre o mesmo tempo de maturação. Ou seja, um whisky 12 anos será sempre 12 anos, independentemente do prazo em que as garrafas ficaram guardadas.
Entretanto, com o tempo, a tendência é que os produtores continuem lançando novas garrafas, que, no futuro, também terão sua raridade, abastecendo o mercado. O que não é possível prever é a forma de produção, já que os parâmetros e regras reguladoras podem ser alterados, ampliando ainda mais o caráter de exclusividade das bebidas produzidas antes das alterações.
Exemplo disso é que na década de 1970 utilizava-se xarope de vinho doce na preparação do whisky, o que passou a ser proibido por volta dos anos 1990. Com isso, os apreciadores do xarope valorizam ainda mais as bebidas produzidas ao modo antigo. Isso faz com que bebidas produzidas nas décadas anteriores tenham sabor completamente diferente das atuais, por exemplo.
Entenda os riscos
O investimento em bebidas é considerado de baixo risco. Por se tratarem de ativos tangíveis, não há de se falar em desvalorização pela inflação. Eles trazem uma diversificação, não estando atrelados a papéis tradicionais, e ainda carregam a característica do prazer em apreciar um bom rótulo.
Na hora da escola, os whiskies single malts valorizam mais do que blends. Já destilarias consagradas, como Ardbeg, Macallan e Lagavulin, tendem a ter rendimentos superiores que outras no mercado.
Na hora da venda, a liquidez dos ativos não é tão alta. Vender um rótulo raro não é algo que se faz com tanta agilidade nem com preços padronizados. A atuação também exige conhecimento técnico e especializado, o que amplia o risco de aplicação.